AMAZONIZA-TE, BRASIL
Faz poucos dias que recebemos a notícia que está sendo retomada a Campanha Amazoniza-te. Uma das primeiras campanhas da CNBB impulsada pela Rede Eclesial da Panamazônia (REPAM) e entidades eclesiais.
Se não me engano, criada em 2020,
a campanha “Amazoniza-te” nasceu do diálogo entre as organizações eclesiais, com
a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), e da necessidade de
sensibilizar a opinião pública brasileira e internacional sobre o perigo ao
qual está sendo exposta a vida na Amazônia. “O desmonte dos órgãos públicos de
proteção ambiental, o desrespeito contínuo da legislação, bem como ausência da
participação da sociedade civil nos espaços de regulação e controle das
políticas públicas também fomentaram a criação da campanha”.
A campanha também nos pedia aos leigos,
missionários e em geral à Igreja da Amazônia, maior enraizamento e compromisso
com a realidade amazônica social e ambiental. A Igreja Católica ainda hoje é
dependente cronicamente da ajuda missionária de agentes pastorais. Quando
cheguei lá como missionário em 1993, na Diocese de Guajará Mirim em Rondônia, se
dizia que 80% dos padres éramos de origem estrangeiro. Muitos como eu, caídos de “paraqueda”, andamos
como os arigó perdidos pelos seringais na época dos soldados da borracha. Nem
poucos erros foram cometidos pela gente com as melhores intenções!
Ainda bom que a percentagem das
freiras de origem brasileira era melhor, se dizia. As mulheres sempre a frente!
Levantamento da realidade panamazônica,
incluindo a situação eclesial, que foi realizado já faz alguns anos,
parece que não levantou estes dados mais atualizados. Porém esta realidade certamente
melhorou, pelo menos pelo que conheço localmente.
Graças à colaboração e empenho da
Igreja Brasileira, como os esforços pioneiros do Projeto Igrejas Irmãs, que
criou vínculos de ajuda entre dioceses amazônicas e outras do Brasil. Muitas dioceses
brasileiras, solidárias com as necessidades da Amazônia, continuam enviando e
sustentando missionários leigos e também padres na maioria das dioceses amazônicas.
A maioria com contratos e rodízios de dois anos de presença, “emprestados” às
dioceses amazônicas. Muito comprometidos e dedicados, assim como os religiosos
e religiosas entregues a missão na região amazônica. Porém nem sempre com
suficiente tempo de conhecer e se “amazonizar” até serem chamados de volta.
Todos os regionais da CNBB ano
trás ano, realizam muitos esforços para os receber e inserir na realidade da
pastoral de conjunto diferenciada que são chamados a evangelizar. O povo sente muita
falta deles e delas quando vão embora! Acredito que ainda hoje missionários e
missionárias continuam sendo imprescindíveis para a pastoral amazônica, assim
como muitos religiosos e religiosas que continuam chegado aos confins da imensa
Amazônia, enquanto que muitos missionários originários das regiões amazônicas já estão marcando dedicação e
presença missionária em outros lugares do mundo. Amazônia evangelizada e
evangelizadora! Os que estivemos lá sabemos como recebemos e devemos tudo deste
povo abençoado!
Assim como a Campanha Amazoniza-te, a presença missionária na
Amazônia continua sendo possível também pelo empenho da brasileira Comissão
Episcopal Para a Amazônia da CNBB, criada em 2011, se não me engano, (que a
gente confunde fácil com a Conferência Eclesial da Amazônia – CEAMA - criada
mais tarde, de âmbito regional de todos os países da panamazônica após o Sínodo).
Esta comissão especial da Conferência
Nacional dos Bispos do Brasília já foi criada respondendo aos apelos de ajuda
dos bispos da região amazônica, impulsada com muito amor e dedicação por nossos
pastores, com o apoio decidido do cardeal Dom Claudio Hummes, que foi nomeado
seu presidente, se dedicando inteiramente a mesma após sua aposentadoria.
Os participantes no Vlll Encontro
das Igrejas da Amazônia em Manaus já tínhamos pedido, em 1997, que o trabalho
conjunto da Igreja fosse estendido a todos os países da Amazônia. E felizmente
isso aconteceu com a REPAM, em 2014. Já
na criação da rede panamazônica também o Cardeal Cláudio Hummes dizia que a Igreja “devia
ter uma cara amazônica” e se “encarnar” e “inculturar” na realidade amazônica.
Nada mais necessário nesta Igreja,
que ainda maioritariamente depende da ajuda missionária externa, mas também
pelo clero e laicato local, historicamente tão comprometido com o povo sofrido,
indígena e comunidades tradicionais, assim com o cuidado com a Criação
privilegiada da Amazônia.
Criada e assessorada com qualificação
de muitas “feras” eclesiais e ambientais de todo o Brasil, a força da REPAM tem
se sentido até os fundões da Amazônia, contando com maravilhosos aportes locais,
apoiando a participação dos agentes de pastoral e do povo amazônico. Com muitas
iniciativas vindo ao encontro dos desafios e das necessidades gritantes da Amazônia, como a
outra campanha “A Vida por um fio”, apoiando tantas pessoas ameaçadas pela
defesa da terra e das águas, dos territórios indígenas, tradicionais, dos direitos humano e do meio
ambiente.
Que esta iniciativa da Comissão
Episcopal para a Amazônia, da nova convocatória da Campanha Amazoniza-te, possa
ter nas instâncias pastorais, como na Comissão Pastoral da Terra, nas pastorais sociais e na REPAM, criada e com sede em Brasília, uma participação ativa para se localizar e inserir ainda melhor articuladas na
Igreja Amazônica e sempre se amazonizar mais, neste espaço continental de graça
que Deus nos entregou para evangelizar.
As portas da COP 30 de Belém, seja
benvinda esta campanha que será lançada na próxima segunda feira, dia 27 de outubro, e “propõe a participação ativa de todo o povo em
defesa da Amazônia, seu bioma e seus povos ameaçados em seus territórios. São
vozes que se somam diante uma realidade de muitas vidas injustiçadas, expulsas
de suas terras, torturadas e assassinadas nos conflitos agrários e
socioambientais, vítimas de uma política norteada pelo agronegócio e por
grandes projetos econômicos desenvolvimentistas que não respeitam os limites da
natureza nem a sua preservação.”
Vamos nos amazonizar, pois.
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