O hino incompleto do Estado de Rondônia

 


 "O hino de Rondônia chama-se "Céus de Rondônia", e tem letra de Joaquim Araújo Lima e música de José de Mello e Silva".


Foi em 22 de dezembro de 1981 que Rondônia foi elevada à categoria de estado. A criação foi por meio do Projeto de Lei Complementar e aprovado pelo presidente da República, à época João Batista Figueiredo. Logo após a criação, o Hino Estadual junto com a Bandeira e as Armas Estaduais, foi instituído pelo Decreto-lei estadual de Rondônia nº 7 de 31 de dezembro de 1981, assinado pelo primeiro governador, Jorge Teixeira de Oliveira. Foi estabelecida a obrigatoriedade do Hino ser cantado diariamente nas escolas públicas estaduais, segundo Lei 421 de 30 de Junho de 1992, assinada por Oswaldo Piana Filho.

Com tudo, em alguns eventos que tenho participado, tenho ouvido o comentário que na época foram esquecidos da letra do Hino Estadual os povos indígenas e as comunidades tradicionais. Criado o Estado de Rondônia em plena expansão da frente colonizadora,  promovida pelo governo da época, é natural e justo que o Hino glorifique os "destemidos pioneiros", desbravadores da região.

Vamos lembrar, sim dos novos e velhos bandeirantes de Rondônia, como a monumental bandeira do paulista Raposo Tavares que desceu do Pantanal para o Guaporé, cruzou as cachoeiras do Mamoré e do Madeira, e voltou pelo Amazonas e pelo oceano.

Porém é mais que justo para todos os que chegamos depois, que o Hino também reconheça a contribuição para o Estado daquela parte da população brasileira e rondoniense, que já estavam presentes anteriormente na região. Um reconhecimento simbólico e emblemático significativo, como na letra do Hino de Rondônia a ser cantado em nossa escolas e eventos oficiais.

Alguns presentes de forma imemorial, como os povos originários, os indígenas que povoaram a região desde antes da criação dos portugueses da Capitania do Mato Grosso, inclusive do Tratado de Madri, que estabeleceu a divisão entre Portugal e Espanha pelos rios Guaporé e Mamoré.

Outros, como as comunidades quilombolas, presentes desde a construção do Forte Príncipe da Beira e das minas de ouro das cabeceiras do Rio Guaporé, que lideradas por Tereza de Benguela e o Quilombo do Piolho, fizeram até hoje do Território do Vale do Guaporé um espaço de libertação e de resistência para todos os africano-descendentes do Brasil, muito antes da Lei Áurea ser assinada.

De todos os ribeirinhos e seringueiros, população extrativista da borracha, da castanha e da poalha, que motivaram a construção da Estrada de Ferro Madeira Mamoré, a origem das cidades de Porto Velho e Guajará Mirim; a construção pela Comissão Rondon da Linha Telegráfica de Cuiabá a Porto Velho, o eixo da futura estrada que converteu Rondônia na encruzilhada da Amazônia Ocidental., e que ainda hoje preservam alguns dos últimos remanescentes das florestas do bioma amazônico em nosso Estado.

Vamos, por tanto, acrescentar uma estrofe ao nosso Hino Estadual. Lembrando justamente destes povos esquecidos de nosso Estado. Poderia até ser feito um concurso popular para compor estes versos complementares. Apesar de ser das últimas gerações de emigrantes que deste estado brasileiro fizeram sua pátria, me atrevo inclusive a sugerir um rascunho de mostra:


Céus de Rondônia

Quando nosso céu se faz moldura
Para engalanar a natureza
Nós, os bandeirantes de Rondônia
Nos orgulhamos de tanta beleza

Povos das águas e florestas
Quilombolas, resistentes,
Somos indígenas e seringueiros,
Da liberdade plantamos as sementes.

Como sentinelas avançadas
Somos destemidos pioneiros
Que destas paragens do poente
Gritam com força: Somos brasileiros.

...


O ideal seria que o autor do poema "Céus de Rondônia" ainda estivesse no meio de nós para dar seu palpite a esta proposta. Temo que isto já não seja mais possível.

 Mas o Hino de Rondônia já não é mais apenas um poema pessoal de Joaquim Araújo de Lima,  trata-se de um patrimônio coletivo de todo um Estado, que temos direitos a moldar, abraçando com nosso reconhecimento e respeito, também aqueles que primeiro abriram caminho para nos estabelecermos e cuidar de nossa amada Rondônia.


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