Grileiros invadem a terra indígena do Lages em Rondônia

A T.I. Igarapé Lage, situada nos municípios de Guajará Mirim e Nova Mamoré, a uns 300 km de Porto Velho, já totalmente rodeada pelo desmatamento, está sofrendo numerosas invasões de grileiros que derrubam a floresta e inclusive as castanheiras do seu interior, um dos principais recursos econômicos dos indígenas da área, com objetivo de apoderar-se das terras da União.

A terra indígena têm arredor de 800 habitantes, moradores das aldeias do Lages Velho, com mais de trezentas pessoas, do Lages Novo, da Linha 14, do Limão, da Linha 08, da Linha 10 e da Cemapi. A maioria são indígenas dos povos Oro Mon, Oro Não e Ororam Xiyein, que antigamente eram conhecidos como Pakáas Novas.

Faz muitos anos que existe roubo de madeira da terra indígena, assim como das castanhas. O Conselho Indigenista Missionário (Cimi), da igreja Católica de Guajará-Mirim, em 2016 já denunciou a invasão de grileiros e madeireiros nas Terras Indígenas (TIs) Karipuna, Igarapé Lage e Igarapé Ribeirão, no município de Nova Mamoré.

“Parentes estamos precisando de ajuda. Nossa terra está sendo invadida. Os invasores estão na cabeceira do rio Lage se aproximando da linha 28. Estamos preocupados a cada dia estão se aproximando da nossa aldeia. Por isso estamos pedindo apoio de todos. Já avisamos a FUNAI infelizmente Até o momento a mesma não se manifestou”…


Este grito de alerta que vinha da Terra Indígena Laje no município de Guajará Mirim foi divulgado em 15 de maio de 2022 em Rondônia:

 "O COMVIDA se solidariza e pede providências urgentes em favor dos parentes que estão lutando pra manter a floresta em pé para dela tirar seus alimentos… invasores comprometem a segurança física e alimentar dos guardiões e guardiãs da Mãe Terra… urge tomada de ação pelos órgãos responsáveis constitucionalmente pela proteção dos direitos coletivos frente as ameaças a esse direito… Escutem o grito que vem dos filhos e filhas da terra…"

Atualmente a maioria das invasões seguem partindo de Nova Mamoré, seguindo a Linha D, a estrada e a faixa de terra do Projeto de Colonização Sidney Girai, que separa a TI do Igarapé Lage e a TI Ribeirão. Algumas das invasões têm penetrado tanto na área, que já estão perto de dividir a mesma e sair no lado de Guajará Mirim.

Apenas atrás da TI Karipuna (1.796), em 2022 a TI do Igarapé Lage, com 347 hectares, foi uma das 50 terras indígenas mais desmatadas do Brasil, Em Rondônia junto as terras indígenas  Uru-Eu-Wau-Wau (158), Roosevelt (232), Karitiana (100) e Tenharim Marmelos (98).

Segundo as denúncias, a maior parte dos invasores têm o Distrito de Palmeiras e o Distrito de Nova Dimensão como base de operações. e os grileiros estão entrando pela Linha 20, pela Linha 24 e pela Linha 28, principalmente. 

Em mapas satélite pode ser vista uma estrada que parte do Distrito de Nova Dimensão e atravessa a T.I do Lages e sai pela região da linha do Bom Sossego de Guajará Mirim. E em alertas do mesmo servidor Mapbiomas podem ser visto novos desmatamentos acontecidos entre 2022 e 2023 dentro da terra indígena.

Invasões que estão sendo organizadas por grupos criminosos, que tem loteado a terra indígena e entram com gasolina e motosserras, derrubando e queimando a floresta, para criar um fato consumado de descaracterização da terra indígena, e intentando inviabilizar no seu território a vida dos indígenas, que dependem da floresta para o seu jeito tradicional de vida. 

Uma das lideranças do grupo é conhecido como André, e ainda em Junho deste ano 2023 vazou um áudio convocando um grupo, que depois esteve roçando e derrubando dentro da terra indígena. Eles entram para roçar e derrubar e saem ao menor sinal de fiscalização. Este grupo se comunica por grupos de watts shap, combinam as ações e pedem para alertar do menor indício de presença de policiais, revelando a consciência da ilegalidade da atuação criminosa. 

A demora pela desintrusão de Unidades de Conservação da região, como o Parque Estadual de Guajará Mirim, realizada apenas ontem, 140823, e o apoio da maior parte dos deputados estaduais aos invasores, têm ajudado a incentivar a grilagem, pois as invasões de dois anos atrás, enviadas para a FUNAI e para o Ministério Público Federal, que com imagens de drone, com as roçadas dos grileiros, foram enviadas como prova, mas não houve nenhuma operação efetiva de fiscalização e por enquanto continuam as derrubadas e queimadas. 

As invasões da terra indígena do Igarapé Lage não ameaçam apenas a integridade do território originário dos indígenas, um povo de relativo recente contato, pois até a metade do século passado se manteve isolado e resistindo os avanços da frente seringalista. Também atingem a integridade do Rio Lages, o primeiro rio do Brasil que foi reconhecido no Brasil como 'sujeito de direitos", por lei municipal aprovada na Câmara de Vereadores de Guajará Mirim. 

Mapas: Mapbiomas alertas



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