Em Rondônia morreu Paulo Aporete, patriarca indígena puruborá.

 
Hoje, 20 de julho de 2023, foi enterrado em Costa Marques, Rondônia, Paulo Aporete Filho Puroborá, com noventa e quatro anos. Nascido em 10 de junho de 1929, na aldeia do Rio Manoel Correia, era um dos patriarcas e últimos falantes da língua indígena puruborá, que graças a ele, seus descendentes não vão deixar morrer.

O povo puruborá, que era dado por extinto, renasceu em parte, graças ao esforço do Dr Gil, da Pastoral Indigenista da Diocese de Guajará Mirim, e o apoio do Conselho Missionário Indigenista de Rondônia (CIMI). Eles que trouxeram a Rondônia a carioca especialista em linguística Ruth Monserrat, para. ouvir os últimos falantes da língua indígena puruborá, em casa de Dona Emília, patriarca puruborá que com a família dela nunca saiu do território originário na Br 429, entre Seringueiras e São Francisco do Guaporé.

O Dr. Gil lembra que Paulo era o último dos Puruborá que conheceu a vida na Colônia 3 de Maio (até 1949) dirigida por José Felix do Nascimento, servidor do SPI colocado por Rondon a frente da Terra Indígena Puruborá e que ele explorou como seringalista.

Sem a memória de Paulo Aporete e a dedicação dos professores indígenas da Aldéia Aperoy, hoje a língua indígena puruborá, da família linguística puruborá, de tronco tupi, estaria praticamente extinta em Rondônia.

“Convém esclarecer inicialmente que a língua puruborá é dada como língua morta: na verdade, os trabalhos linguísticos que puderam ser feitos, limitam-se a listas vocabulares e a poucas frases. Não há mais falantes que possam utiliza a língua como forma de comunicação plena. O único sobrevivente que ainda conserva, bem precariamente, a memória lexical da língua, é Paulo Aporeti, um idoso de cerca de 90 anos, enfermo e enfraquecido. É nele que se apoia, em seu desejo de aprender a língua de seu povo (no que ainda for possível) e de ensiná-la às crianças, o jovem Professor da língua materna, (...). Ele tem fé, ele tem esperança de que ainda é possível, sim, voltar a falar em puruborá”. (Ruth Montserrat)

Também, Ana Vilacy Galucio, pesquisadora do Museu Paraense Emílio Goeldi coordenou um projeto de Documentação da Língua Puruborá, desenvolvido no período de 2001 a 2007, com o objetivo de contribuir para a salvaguarda e valorização da língua Puruborá:

"Em 2001, eram nove anciãos, seis dos quais ainda lembravam algumas palavras e frases em Puruborá. Entre 2001 e 2013, faleceram cinco dessas pessoas. O corpus maior do trabalho de resgate de informações em Puruborá foi realizado com a participação efetiva de dois dos membros mais idosos do grupo, Sr. Paulo Aporete Filho e Sr. José Evangelista Puruborá (Sr. Nilo). Esses dois anciãos com melhor domínio da língua Puruborá são responsáveis por quase 100% das informações disponíveis da língua."

Em todo caso, a memória e o legado de Paulo Aporete é fundamental para a retomada do Povo Indígena Puruborá, após a recente criação do Grupo de Trabalho da Funai, que deve estudar os fundamee antropológicos e históricos de sua ocupação imemorial, e ainda sofre constantes ameaças de vida. 

Com políticos perseguindo seus direitos e apoiando os grileiros, que criminosamente invadem e devastam as florestas dos seus territórios tradicionais.

Ainda hoje, o território puruborá, entre o Rio Manoel Corréia e o Rio Caio Espíndola é um dos únicos trechos da BR429 que preservam a vegetação aos dois lados da BR 429, onde não faltam as chuvas, sendo um corredor ecológico vital entre as florestas do Parque do Pakáas Novas, Terra Indígena Uru Eu Au Au e a Reserva Biológica do Guaporé e TI Rio Branco, TI. Massaco, território indígena Miqueleno, territórios quilombolas do Jesus, Santo Antônio do Guaporé, Pedras Negras, território interétnico de Tarumá e Rolim de Moura do Guaporé, TI Wuajuru e Parque Estadual de Corumbiara, com os territórios quilombolas de Laranjeiras, Santa Cruz e povo indígena Guarasugwe, no Vale do Guaporé. Uma das áreas mais preservadas do Planeta.

O resgate da língua puruborá, que a memória do finado Paulo Aporete, aportou é um patrimônio cultural da diversidade do povo brasileiro, que o estado de Rondônia não pode deixar perder. Um legado para toda a Humanidade. Que fortalece a identidade e reconhecimento dos direitos originários territoriais de um povo que já tinha sido dado por extinto, apesar de ter tido o seu território demarcado pelo próprio Marechal Rondon e reconhecido pelo SPI. Um povo indígena que hoje, em justiça e para o bem de todo o mundo, sem condicionamentos artificiosos (marco temporal), deve ter os seus direitos originários constitucionai
s reconhecidos e preservados.

Foto: Paulo Aporete Filho Puruborá, 94. Foto divulgação parentes.

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