Conflitos Socioterritoriais e Violência na Amazônia Brasileira
Resumo de apresentação no X Fospa de Belém, na "Mesa de Vivências Ouvidorias Externas das Defensorias Públicas do Brasil na Promoção do Acesso à Justiça e na Construção de Teias de Proteção de defensores e Defensoras de Direitos Humanos na Amazônia."
A
Comissão Pastoral da Terra - Articulação da Amazônia - numa Iniciativa junto a
entidades do Peru, Colômbia e Bolívia do IX Fórum Social Panamazônico, em 2020
apresentou um Atlas de Conflitos
Socioterritoriais da Panamazônia, tendo levantado na Amazônia Legal brasileira
995 conflitos ativos, envolvendo 131.309 famílias.
Mais
de 42% dos conflitos envolvem como sujeitos sociais pequenos agricultores das
frentes de colonização. Porém Indígenas, Comunidades Tradicionais e Quilombolas,
juntos, representam mais da metade dos sujeitos envolvidos.
A
maioria dos conflitos acontecem (322) em territórios sem reconhecer ou de
posseiros sem titulação; outros
conflitos são decorrentes de invasões e grilagem de terras (64). Também
destacam os grupos despejados e sem terra (63).
O
agronegócio - que agrupa a pecuária e diversas monoculturas de soja, dendê,
etc. representa 60% das causas dos conflitos da Amazônia brasileira. Seguem a
madeira, as hidrelétricas, a economia verde (no Acre) e a mineração.
Já,
segundo o caderno de Conflitos no Campo
Brasil de 2021, (e este dado não diverge muito de outros anos) nos estados
da Amazônia há arredor do 50% dos conflitos no campo que apresentaram
ocorrências, registradas em todo o Brasil no Centro de Documentação Dom Tomás
Balduíno (CEDOC/CPT), um total de 784 registros nos nove estados da Amazônia
Legal. Não representa mais conflitos na Amazônia, porém a região sofreu arredor
de 80% ou mais das violências registradas.
Apesar
da pandemia, durante 2021, pelo menos 1.186 famílias sofreram despejo judicial e
484 famílias foram expulsas violentamente de suas terras na Amazônia. Centenas sofreram
ameaças de despejo e tiveram casas, roças e outros bens destruídos, sofrendo
intimidações e agressões de pistoleiros e milícias armadas. Há poucas novas
ocupações de terra para reforma agrária, porém elevado índice de invasões de
terras demarcadas, como áreas indígenas e unidades de conservação. Também
destaca acima do resto do Brasil o número de detidos e presos pelo Estado em
conflitos fundiários, especialmente em Rondônia.
Enquanto
ao assassinatos de camponeses/as ou seus aliados, na Amazônia brasileira há 62
vítimas registradas: 55 homens e 07 mulheres assassinadas no campo entre os
anos 2020, 2021 e 2022 (parcial até 17/07/2022). De 18 assassinatos no campo
Brasil, 15 aconteceram na Amazônia Legal em 2020. De 35 assassinatos no campo
Brasil, 28 foram na Amazônia Legal em 2021. E de 23 assassinatos no campo
Brasil (até 17/07/2022), 18 foram na Amazônia Legal.
Por
estados, lideram o Maranhão (16) e Rondônia (16), estados onde há mais mortes
violentas nestes três anos, seguidos de Amazonas (9), Pará (8) e Roraima (7), e
menos vítimas em Tocantins (3), Mato Grosso (2) e Acre (1). Estado que durante
muitos anos liderava a violência, como o Pará, tem uma redução de vítimas,
enquanto aumentam os assassinatos nos territórios indígenas e quilombolas do
Maranhão; assim como há mais vítimas que antes de colonos na disputa por
territórios na região do sul do Amazonas e áreas próximas de Acre e Rondônia
(área da Amacro).
Em
resumo, uma situação de conflitos e de violência que atinge pessoas de carne e
ossos, indígenas, quilombolas, ribeirinhos dos povos da Amazônia, a maioria dos
quais são vítimas que sofrem o avanço de grileiros, garimpeiros e madeireiros nos
territórios secularmente ocupados por eles na Amazônia.
X
FOSPA - Belém do Pará, 29 Julho de 2022.
REFERÊNCIAS:
ATLAS DE CONFLITOS
SOCIOTERRITORIAIS PAN-AMAZÔNICO. – Comissão
Pastoral da Terra/Grupo de Pesquisa e Extensão sobre Terra e Território na
Amazônia (Gruter) da universidade Federal do Amapá/Observatório da Democracia,
Direitos Humanos e Políticas Públicas/Centro de Investigação y Promoción del
Campesinato (CIPCA)/Federación Nacional de Mujeres Campesinas Bartolina
Sisa/Instituto del Bien Común/Asociación Minga/Universidad de la Amazonia –
Goiânia 2020.
CONFLITOS NO CAMPO BRASIL 2021. –
Centro de Documentação Dom Tomás Balduíno – Goiânia, CPT Nacional 2022.
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