Mais uma liderança assassinada em Rondônia.


Wesley Flavio da Silva, presidente da associação rural Nova Esperança, foi assassinada o 17 de Junho de 2022, em Campo Novo de Rondônia, dentro do Projeto de Assentamento Nova Floresta.

Segundo divulgado, Wesley morreu após ser baleado por uma pessoa que chegou numa moto vermelha na sede da associação Nova Esperança, da qual o Wesley era presidente, e depois de conversarem uns momentos atirou pelas costas na liderança dos posseiros, que faleceu no local.

Wesley Silva, de 37 anos, era casado, pai de um casal de filhos menores de idade, e tinha sido secretário de obras do município vizinho de Governador Teixeira, onde foi realizado o velório. Por causa de ameaças tinha saído desta cidade e tinha uma nova residência em Campo Novo de Rondônia.

Até o momento nenhum suspeito tem sido apontado como autor ou mandante do crime, sendo que se considera que o assassinato aconteceu por causa do conflito agrário.

 


Uma área de conflito agrário com graves situações de violência.

A Associação Nova Esperança reivindica esta terra pública, ocupada por mais de 280 famílias desde 2018. Um antigo seringal desapropriado em 1989 e no qual foi criado nos anos 90 o projeto de Assentamento Nova Floresta, mas que teve a maior parte da área sem efetivar o assentamento, após ser grilada pela Fazenda Marechal Rondon, do ex senador, deputado federal, prefeito e por último, vereador de Ariquemes,  Ernandes Amorim.

Amorim é um conhecido e controvertido político local, vinculado ao garimpo, que já sofreu prisão e diversos processos e condenas por agressões e por corrupção, sendo acusado também de desmatamento ilegal.

O local de conflito, situado entre os municípios de Governador Teixeira e Campo Novo, já foi palco de tensão após acusações de desaparecimento de dois caseiros e do ataque de um grupo de pistoleiros aos posseiros da área, que segundo informações locais, foi realizado por uma milícia de doze homens  comandada por um ex-policial de Buritis conhecido como “Zeca Urubu”, em 18 de Julho de 2020.

Na época diversos vídeos e fotografias foram divulgados nas redes sociais de Rondônia, denunciando que diversas pessoas foram espancadas e vários carros danificados a balas. Ainda deixaram uma lista com ameaças de morte a seis pessoas do acampamento.

 


Reintegração de posse

Na manhã da quinta-feira 04 de fevereiro de 2021 uma megaoperação policial executou uma reintegração de posse no local com homens da Polícia Federal, Polícia Civil, Polícia Militar, Corpo de Bombeiros e um Helicóptero do Núcleo de Operações Aéreas de Rondônia (NOA).

Mais de 180 famílias tiveram as casas e roças destruídas durante os três dias que demorou cumprimento da reintegração de posse, acarretando, dessa maneira, uma situação de extrema vulnerabilidade às famílias em plena pandemia da COVID-19.

Contudo conseguiram evitar que todas fossem despejadas, porém a reintegração nestas circunstâncias colocou em perigo de contágio policiais, servidores e centenas de pessoas foram deixadas em situação de risco e de extrema vulnerabilidade

Segundo os posseiros, algum tempo depois da efetivação do despejo, mais de trinta famílias contraíram o vírus da COVID 19, seguramente por ter sido impedidos de manter o isolamento e ter que ficar refugiadas em casas de familiares e acampamentos.

 


Suspensão da ordem judicial e reocupação da área.

Uma nova ameaça de reintegração de posse foi suspensa com intervenção do Ministério Público Federal de Rondônia, em parceria com a Defensoria Pública do Estado de Rondônia, após uma decisão do Tribunal Regional Federal da 1ª Região (Agravo N. 1002678-68.2021.4.01.0000) suspender o despejo que estava programada para ocorrer no dia 17 de março de 2021.

Os camponeses, atendidos pela Ouvidoria do DPE, em articulação com a Defensoria Pública do Estado, obtiveram apoio do MPF, que no mês de janeiro de 2021 agravou uma decisão da Justiça Federal, defendendo a efetiva competência federal e o domínio do Incra na área. 

Após esta decisão, os posseiros fizeram a reocupação da área e os posseiros enfrentaram e expulsaram um grupo de pistoleiros armados que estava na sede da fazenda do Amorim e que se refugiaram numa vizinha aldeia indígena Uru Eu Au Au.

 


Invasões da área indígena

Assim este conflito em momentos atinge também a aldeia indígena Alto Jamari da Terra Indígena Uru Eu Wau Wau, causando grande constrangimento para eles o fato que os indígenas para entrar e sair da aldeia têm que atravessar a área em disputa.

Ainda há décadas o fazenda têm sido acusada de ser utilizada para garimpo ilegal, com denúncias atuais de continuar sendo um foco de  invasões e de roubo de madeira da terra indígena Uru Eu.

 

Vinte e um (21) assassinatos no campo do Brasil em 2022. 

Recentemente diversos vídeos e reportagens tem sido publicados na mídia de Rondônia, nos quais os posseiros da Associação Nova Esperança tem divulgado as suas reivindicações, o trabalho na terra das famílias e as suas dificuldades no conflito com o ex senador Amorim, que também se manifestou.

Continua a tensão diante das possibilidades de uma nova reintegração de posse, após a prorrogação dos despejos adiadas pelo STF por causa da pandemia, o que pode estar acontecendo após a Procuradoria Especializada do INCRA não ter se manifestado à pedido da justiça sobre a titularidade da área

Com a morte de Wesley da Silva os assassinatos por conflitos no campo no Brasil registrados pela CPT em 2022, segundo dados parciais do CEDOC de 09 de maio, era de 18 assassinatos de camponas e camponeses, dos quais 15 na Amazônia. Que agora já devem ser mais 03, após as mortes confirmadas dos dois desaparecidos do Vale do Javari e do Wesley aqui em Rondônia.

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