Uma política eleitoreira de fatos consumados: a regularização fundiária.


 






José Geraldo Santos Alves Pinheiro, autotitulado Geraldo de Rondônia, ganhou relevo numa audiência pública o passado dia 01/05/22, ao incentivar o povo de Jacinôpolis, em Nova Mamoré,  a queimar os carros de fiscalização ambiental que tentam preservar o Parque Estadual de Guajará Mirim e o último corredor ecológico das florestas do centro do estado. Vários carros da Polícia Militar e da SEDAM já foram emboscados, e inclusive baleados ao adentrar nas áreas invadidas da unidade de conservação ambiental, onde consta a presença de indígenas isolados, vizinhos da TI Uru Eu Au Au. 

Vai ficar impune o incentivo a violência e aos ataques contra a fiscalização ambiental?

Apesar de nascido fora de Rondônia, como a maioria dos seus companheiros da Assembleia Legislativa de Rondônia, com o exagero que o caracteriza, o indigno Deputado se mostra legítimo representante duma casa de leis pouco preocupada com o futuro do Estado e com o respeito às leis, com uma fala que em realidade desmascara a atitude geral duma Assembleia Legislativa ao arrepio das leis vigentes, que procura criar currais eleitorais entre o povo enganado para servir de massa de manobra da devastação.

Povo com a propriedade da terra negada pela negação da política constitucional da Reforma Agrária, perseguidos a bala pela polícia se tentam ocupar o latifúndio, que está sendo enviado a invadir e desmatar áreas de conservação ambiental. Usados para a grilagem, especulação territorial e avanço das fronteiras agrícolas das monoculturas, que apenas beneficiam o mercado exportador da pecuária, da soja e do milho, para ração e criação de porcos e galinhas na Europa ou na China. 

No Brasil, o país onde cresce a fome, a carne dos bois é enviada ao exterior, assim como a soja e o milho destinado a ração, plantadas com aumento dos agrotóxicos, às custas da saúde do povo, do esgotamento do solo frágil, da desertização dos biomas, do fim dos rios e florestas amazônicas, dos conflitos do campo, da violência e expulsão das comunidades indígenas e tradicionais dos seus territórios.

Onde a caótica ocupação da terra sempre fez avançar a frente de colonização privilegiando a concentração da terra dos mais poderosos e dos mais violentos, novamente são centenas de famílias enviadas a dar murros em facas, usados para "antropizar" e destruir as unidades de conservação, convertidos em novos desbravadores dos últimos remanescentes das florestas, destrutores da Criação Divina e delinquentes ambientais, incentivados por audiências públicas legislativas de quem promete o que não pode cumprir.

Novamente o discurso da regularização fundiária incentiva o agrobandidagem. Prometem legalizar quem estiver acima da terra. Não importa como chegou lá: Se derrubou a mata, se queimou, se roubou terras, se ameaçou ou matou quem resistir o avanço do arco de fogo. 

A ALE RO de olho nas eleições têm convocado Audiências Públicas eleitoreiras, destinadas a iludir os invasores da Flona de Bom Futuro do Rio Pardo, das Minas Novas clandestinas da Reserva Extrativista de Jaci Paraná, do Bico dos devastadores do Parque Estadual de Guajará Mirim, da Reserva Extrativista do Lago de Cuniã, das Reservas Extrativistas de Machadinho do Oeste, de Guajará Mirim e de Costa Marques. 

Ao final indígenas e extrativistas são minoria. Na terra de oportunidades de Rondônia, oportunistas predominam e dominam mesmo. Acabando com as florestas, a galinha dos ovos de ouro, matando a sustentabilidade. Tomando as terras públicas e as privatizando indevidamente, prejudicando a toda a nação brasileira e ao mundo inteiro para lucro de uns poucos. Prejudicando diretamente os legítimos donos dessas áreas e das terras indígenas, os povos das águas e das florestas amazônicas são escorraçados, ameaçados e assassinados impunemente.

É assim que se cumprem as exigências do Mercado para o Brasil se converter em produtor de minérios e exportador de matérias primas baratas: madeira, carne, soja,... Espoliados das riquezas como ouro, diamantes, nióbio... tirados de contrabando que sequer pagam impostos. Em troca de produtos caros elaborados no Norte global, com alto valor agregado. Literalmente (como no desenho da capa), bois por carros, como preconizam os acordos de livre comercio. 

Como o acordo assinado do Mercosul com a Europa. Que em realidade não beneficia nem o povo da Europa nem os povos dos países da América Latina, como denunciou no Congresso de Brasília o eurodeputado Miguel Urban,  e um coletivo dos movimentos sociais, alertando os candidatos brasileiros da política contrária ao bem comum,  "uma dinâmica econômica concentradora de ganhos e socializadora das perdas". 

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