O pior conflito agrário de 2021.

Foto: Duas das vítimas do massacre do 13 de agosto no Acampamento Ademar Ferreira



ESTA SEMANA: Mais uma vítima de conflito agrário em Rondônia. 
Outra morte veio aumentar a espiral de violência agrária na região do Distrito de Nova Mutum, em Porto Velho, depois que segunda feira, 30 de agosto, foi divulgado outro assassinato, sendo a vítima identificada como Jediel Almeida da Silva, de 27 anos. 

Área de conflito acumula mortes violentas. 
Este assassinato se acrescenta ao massacre de três pessoas do dia 13 de agosto, que já foi precedida este ano de outros três assassinatos de camponeses na região, além dum caseiro da fazenda em junho e de dois policiais em outubro do ano passado. Em termos de violência, parece ser o pior conflito agrário de 2021 no Brasil até o momento. 

Famílias disputam dois grandes latifúndios. 
Situados a beira da BR-364, distrito de Nova Mutum, a uns 190 km. de Porto Velho em direção ao Acre, a fazenda Norbrasil, é conhecida como área do Galo Velho, teria 57.000 h.. Enquanto a Fazenda Santa Carmem, de umas 20.000 h., está nas mãos dum conhecido grupo empresarial de Rio Branco AC. A disputa pelos dois latifúndios está se convertendo na mais violenta disputa por terras do Brasil de 2020, com centenas de famílias nos Acampamentos Thiago dos Santos e Ademir Ferreira, segundo fontes próximas a Liga dos Camponeses Pobres (LCP). 

Retaliação pela morte de dois policiais em 2020. 
Tudo indica que há uma operação aberta de retaliação pelos dois policiais mortos na área em outubro de 2020: O tenente Figueiredo e o sargento Rodrigues, além de outro tenente da Polícia Militar gravemente ferido, das quais foram acusados os sem terra. Na época, uma associação de praças de Rondônia, chegou a cobrar do governador e dos comandantes da segurança do estado por não revidar imediatamente. 

Violentamente despejados em 2020. 
Após semanas de cerco policial ao Acampamento Thiago dos Santos, seguiu um violento despejo de mais de quinhentas famílias da Norbrasil no dia 09 de outubro de 2020. O despejo aconteceu menos de 24 h depois de ser imitida ordem de reintegração de posse e cinco dias antes de ser publicada. É dizer, sem dar nenhuma chance de defesa jurídica, e após ataque com gases sem negociação prévia e muitos abusos, segundo relatos das famílias acampadas recolhidos por advogados da ABRAPO (Associação de Advogados do Povo). 

Ocupação da Fazenda Santa Carmen. 
Posteriormente, parte dos acampados teriam retornado ao acampamento, que em janeiro de 2021 desdobrou, criando o Acampamento Ademar Ferreira e ocupando a vizinha e também imensa Fazenda Santa Carmem. 

Ameaças de pistoleiros e policiais. Segundo Centro Brasileiro de Solidariedade aos Povos – CEBRASPO e Associação Brasileira dos Advogados do Povo – ABRAPO, as famílias do Acampamento Ademar Ferreira desde o começo da ocupação, sofreram ameaças de pistoleiros contratados pela fazenda e de policias, que prestavam serviços de pistolagem para o fazendeiro: constrangendo e ameaçando os camponeses. 

Morte dum acampado fugitivo da justiça. 
Alonso da Conceição, de 23 anos, também acampado, segundo a mídia, foi morto na região em confronto com a polícia militar no dia 21 de maio. Pela LCP, o mesmo era apenas mais um jovem negro acampado no Thiago dos Santos, vítima da polícia. 

Uma caçada dos sem terras e seus aliados. 
No entorno dos Acampamento Thiago dos Santos e do Acampamento Ademar Ferreira, segundo fontes da LCP, houve também no dia 15 de abril de 2021, a morte dum acampado identificado apenas como Jerlei, na Linha 29. E no dia 27 de abril de 2021 em Vila Jirau, o assassinato do comerciante Roberto Pereira da Silva Pandolfi de 34 anos, segundo a LCP, considerado apoiador dos acampados na Vila Jirau. Poucas destas informações foram divulgadas na mídia e nenhuma apuração de autores o mandantes foi divulgada. 

Ataque à fazenda Santa Carmem. 
Em 22 de abril, sim foi amplamente divulgado o ataque e depredação da sede da fazenda e os maus tratos a dois funcionários, pouco depois da morte de Jerlei, o dia 15 do mesmo mês de abril. 

O Massacre de 13 de agosto de 2020. 
Por outro lado, a LCP tem desmentido a existência de confrontos com o Batalhão de Choque da Polícia Militar (BOPE) nas mortes de Amaral Amarildo Aparecido Rodrigues, de 49 anos, e o filho dele, Amaral José Stoco Rodrigues, menor de 17 anos, e o jovem Kevin Fernando Holanda de Souza, de 21 anos, no dia 13 de agosto. Segundo estas informações, muitas outras pessoas tiveram que fugir e se esconder por medo de morrer. Aos poucos apareceram cinco pessoas inicialmente dadas por desaparecidas, incluída a esposa dos dois falecidos da mesma família. Segundo fontes próximas dos acampados e outras próximas da polícia, a Força Nacional participou da operação, do dia 13 de agosto, mas a mesma desmentiu esta informação. 

Famílias presas. 
Na mesma data do 13 de agosto, foram presas 05 pessoas, entre eles uma família com dois filhos que teve seu carro baleado, segundo a LCP, e todos foram posteriormente liberados. Também foi anunciada na mídia a prisão, em 17 de agosto, de um foragido da justiça de 29 anos, trabalhando armado na fazenda da área de conflito. Também outras 04 pessoas acampadas teriam sido presas. 

Ainda há o episódio escuro, sem que sejam conhecidas motivações nem os mandantes, do assassinato no núcleo urbano do Distrito de União Bandeirantes, também próximo da área de disputa, de três ex acampados do Acampamento Thiago dos Santos, que foram assassinados o 10 de março de 2021. Os três supostos autores foram presos na mesma noite.

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